Luiz Roberto Benatti
O olhar do pintor percorre com vagar os limites do corpo feminino – essa anatomia do êxtase – e, mais que a visão desajeitada do espectador, o percurso não se interrompe antes que, agora, ele possa apalpar volume, elevação, curvas, inclinações, descensos. O olhar do pintor camufla a agitação, disfarça o ímpeto, contém o grito. Gula e sobriedade, porque o que ele quer é conformar a Beleza nos limites do quadro, antes que ela decline e pereça. O sublime nega ao desejo a consecução da incômoda parceria que misturaria tinta com suor, sêmen com luminosidade inimitável. Você poderá chamar Alfred Böcklin de ultra-romântico ou simbolista, porque Marcel Duchamp o chamou de mestre. Vale a pena contemplar de modo demorado reproduções de Alfred Böcklin antes que as musas de Richard Murrian nos seqüestrem de vez para a ilusão da entrega total do corpo despudorado. Em Murrian, não se vêem monstros marinhos ou terrestres que nos previnam dos perigos da carne.