Sérgio Roxo da Fonseca
No início de 2016, tive o privilégio de acompanhar as lições proferidas pelo Professor Cândido Rangel Dinamarco, sobre o atual Código de Processo Civil, em simpósio instalado em um navio que se movimentou por portos europeus e africanos.
Os debates foram acompanhados por juízes, advogados, promotores de Justiça, professores e pelo doutor Francisco Rezek, Ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal.
É escusado tecer qualquer comentário sobre as extraordinárias luzes deitadas sobre a matéria, provindas dos comentários do Professor Cândido Rangel Dinamarco. Faço aqui um comentário vizinho à sala dos debates.
Nos intervalos, permanecíamos em uma sala acessada por todos os demais viajantes, dentre os quais uma menininha que encantou a todos. Refiro-me a Catarina, a única criança do grupo, então com cinco anos, demonstrando, no entanto, capacidade de comunicação muito acima dos horizontes de sua idade.
No meio de um dos encontros, Catarina, observando a importância devotada por todos ao professor, aproximou-se dele e lhe perguntou o que ele estava ensinando para o grupo. A questão causou espanto.
Cândido, imediatamente, disse a Catarina que estava dando aulas sobre como usar os dedos. Os dedos? Sim, os nomes dos dedos. Este dedo é o Mindinho. Este outro é o seu Vizinho. O do meio é o Pai de todos. Este aqui é o Fura bolo. E o último é o Cata piolho. Catarina passou a repetir os nomes, guardando seu significado para toda a sua vida.
O professor desenvolveu o discurso, perguntando para a menininha se ela sabia o que era anagrama. Não, foi a resposta. Anagrama é a possibilidade se escrever dois nomes diferentes com as mesmas letras. Se trocarmos de lugar as letras de América encontramos Iracema. A mesma operação com Catarina, na sua forma antiga, encontraremos Natércia que foi a inspiração do mais famoso poeta de Portugal.
Catarina concluiu: meu filho vai se chamar Cata Piolho e minha filha será Natércia e saiu correndo perseguindo os passos de sua infância.
Na outra tarde, Catarina aproximou-se do grupo quando alguém insistiu no nome dos seus futuros filhos. Natércia e Cata Piolho?
– Não, troquei o nome dele. Natércia será Natércia. E o Cata Piolho vai se chamar Cândido.
Alguém do grupo sentenciou que o professor Cândido Rangel Dinamarco tem o invejável dom de ensinar seus alunos a trabalhar bem com os dedos. Desde a idade de Catarina até a idade daqueles que já ultrapassaram a casa dos setenta. Benza Deus, diria Catarina.