Luiz Roberto Benatti [Péret, Breton e dois amigos]
Se for verdade que nossa tristeza é parte do DNA dos índios que nos emprestaram cultura, Língua, culinária, bem como nos ensinaram a encontrar rasto de cotia diante da bolsa de SP, como sugeriu Macunaíma, e se isso tudo tem a ver com nossa identidade em construção, então deveremos admitir que certas inscrições criptografadas de nossa Literatura mereceriam ser decodificadas. É o caso dos poetas Benjamin Péret, Jobim & Vinícius que, vivendo os três no Rio de Janeiro, em épocas diferentes, encontraram um modo de dizer quase do mesmo jeito que a gota de orvalho namora a pétala de flor, antes de tombar como lágrima de amor. Péret escreveu: “Un sourire large comme une goutte d’eau/flotte devant elle/et se perd dans la nuit”, quer dizer, “Sorriso largo como gota d’água flutua à frente dela e se perde na noite”, enquanto que Jobim e Vinícius anotaram: “A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor: brilha tranqüila, depois de leve oscila e cai como uma lágrima de amor”.
A mente procura a alma, a alma enamora-se da alma gêmea, o Acaso, quando não é fruto da calmaria, encontra-nos sempre que estivermos a caminho do Nada perto de Nenhures. Assim, Benjamin Péret chegou em 1929 no Rio de Janeiro, casou-se com Elsie Houston, carioca, soprano e grande cantora, e, pelas núpcias, tornou-se concunhado de Mário Pedrosa. Com o conchunado, Péret migrou do comunismo para o trotskismo. Em 1931, Benjamin foi preso pela polícia de Getúlio Vargas e expatriado. Voltou mais tarde. É possível que Elsie tenha cometido suicídio dem 1943. Péret conviveu com Mário e Oswald de Andrade, Villa-Lobos e Flávio de Carvalho, dentre inúmeros outros intelectuais que à época produziam-se em quantidade e qualidade. Pela elevada competência musical, Jobim aproximou-se de Villa-Lobos e, por tabela, de Benjamin Péret.