
Luiz Roberto Benatti
O que parece ser capacidade gerencial – fala grosseira, murros no tampo da mesa, enquadramento neurótico de subalternos, desprezo do barnabé, mentira sistemática para incriminar o adversário – pode revelar distúrbio de personalidade. Muitos cidadãos identificam-se com a criatura autoritária e vêem na ação patológica traços de elevada inteligência, como se o histerismo fosse inócuo.Na tipologia do líder proposta por Weber, tais admiradores rejeitam o líder natural que não usa chicote. Reich e Adorno estudaram a criatura, com base em Mussolini e Hitler. No caso do último, a ação nefasta foi tão longe, que a “solução final” ou o extermínio em massa nos campos de concentração foi aprovada por gente que se tinha na conta de cristã. Adorno enquadrou essa personalidade no índice F-scale ou a régua que mede o fascista. Está em Freud: pai autoritário, repressão sexual, ódio ao grupo de família, timidez, rancor, camuflagem, desejo ardente de cometer parricídio, ainda que seja o recomendado por Freud, quer dizer, de modo simbólico ou metafórico. Diminuída até o rés do chão por pai autoritário, a personalidade autoritária passa a vida querendo provar aos outros que é capaz, poderosa, confiável, salvadora. Além de terminar mal, esses indivíduos levam a comunidade ao buraco, do qual a ponte servia apenas para inundar o barranco do discurso líquido.