
Luiz Roberto Benatti
o pássaro voa na folha de papel
a folha de papel tem o formato duma nuvem
a nuvem espreita o elefante
mas sonha com uma pedra
o medo é feito de coragem empalidecida
estou aqui embaixo
enquanto o povo à minha volta
olha para cima à espera dum asterisco perfumado
minutos antes de ser baleado
o motoqueiro acelerava a gorjeta
agora diz o repórter que ele corre risco de morte
já que a vida por pouco não ficou no meio-fio
na coluna social a beldade
é linda de morrer até às 3 da tarde
depois disso as camadas de creme se desprendem
como Anselm Kiefer faz com as placas
endurecidas de tinta
desconstrua-me à vontade
volto sempre a ser imensa tela em branco
à espera do pássaro da criança