Andrew Zawacki/Benatti

rajada FASFAS contra o salgueiro
é por isso que a árvore existe
esquiva-se no escuro e torra o ar
brilhante, antracite e artrítico
ramo de onda senoidal &
o que se acha ali
tenho sonhos & você encontra-se
neles
na hiperfocal distância das folhas
1050 denier de tecido duplo
mas alguma coisa vai sempre
descoser-se
– está nevando
– o que é isso?
[Nota: Num artigo intitulado “A costela de prata de Augusto dos Anjos”, Anatol Rosenfeld não apenas tirou o poeta do buraco em que o meteram – o pré-modernismo – como ainda encontrou para ele um parceiro alemão de primeira linha – Gottfried Benn, cultores ambos duma poesia de necrotério e de palavreado pouco usual ao vocabulário parnasiano ou simbolista em que a poesia nacional continua entaliscada. Quanto a isso, temos de dizer que vocábulos gerados tanto pela anatomofisiologia quanto pela mecânica devem ser apensos ao poema que se quer contemporâneo. Quase tudo é relativo: Zawacki usa antracite como poderia ter feito uso de hulha ou carvão mineral, assim como incorpora ao soneto termos como FAS ou denier para se referir às medidas de resistência do náilon aplicado à jaqueta do piloto do avião de bombardeio. Como vêem, nosso atraso não é só técnico mas literário.Carecemos dum novo Augusto dos Anjos!]