
Stéphane Despatie/Benatti
pilhas de livros espalhados pelo chão
misturam-se poeira e resenhas
uma foto na parede
Beckett com a cabeça nas mãos
a mobília fala
ela quer publicar-se
acendemos o que se apagou
e apagamos o que ilumina
repete-se a operação algumas vezes
e cruzamos com os rostos do dia
dependurados como círculos negros
[Nota: O poema de Stéphane Despatie, escrito há bem pouco tempo, fala da indiferença do leitor por Poesia e da sistemática recusa das editoras em publicar bons poetas, como se fez no Brasil nos tempos da José Olympio. Os brilhos dos produtos na vitrine são mais atraentes e servem às trocas nos túneis escuros da comunicação enquanto nos arrastamos rumo à incerteza. A Poesia não carece de sachê de mostarda.As mãos do poeta diante da lousa, pedem clemência.]