Luiz Roberto Benatti
A dupla de bandidos norte-americanos cometeu roubos em penca e matou muita gente: eram jovens, ousados e,apesar de ser meio caipiras, investiram em boas roupas e carros de luxo. A partir do momento em que o demônio do meio-dia mordeu-lhes o calcanhar aceleraram o motor de arranque mental e foram em frente.A morte é o meio seguro de se viver a Eternidade por antecipação. Especializaram-se em roubo de postos de gasolina rurais e mercearias singelas: um pouco por vez porque o que contava para eles era o esmero na produção dum sentido de vida que os levasse para além do inexistente arco-íris de suas infâncias esfaceladas. Poderíamos dizer que, nesse sentido, fossem criaturas que poderiam candidatar-se ao uso e abuso no divã de Freud. Não tinham nada a ver com relações promíscuas com o poder, no entanto, enquanto marido e mulher, espalharam por aí esperma e ovário. No Brasil, muitas, até o momento, são as duplas – marido e mulher – à distância recriadas por Bonnie e Clyde. Não roubam postos de gasolina fuleiros mas a poupança de funcionários públicos politicamente identificados com o PT; dilapidam o Estado despreocupados em saber se seus netos irão comer pamonha ou acarajé na época do Colegial. Matéria para escritores e teatrólogos nacionais que ainda deliram com os suspiros de Cordélia dos Abrolhos e seus ataques histéricos. Bonnie & Clyde não gostariam de ter sido outra coisa se não bandidos, ao contrário dos nossos que insistem em ser mocinhos perfumados, com contas bancárias nas estranjas. Teriam deixado Lampião e Maria Bonita desacoroçoados.