Luiz Roberto Benatti
Na história política do País, uma das relações mais intrincadas entre pai e filho foi personificada por Getúlio Vargas e o filho Lutero. Lutero foi cirurgião-chefe do centro de pediatria Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro. Em 1944, foi para a Itália para servir no fronte como tenente médico no Grupo de aviação de caça. Ao retornar, meteu-se na política e a exerceu com certa ferocidade em defesa do pai contra Carlos Lacerda. Xingaram-se bastante, a ponto de Lacerda, boquirroto, ter chamado Lutero de filho rico do pai dos pobres. A batalha pode ter tido início na ajuda financeira dada ao jornalista Samuel Weiner e denunciada como ato de ilegalidade por Lacerda. Sobral Pinto criticou Lutero que foi chamado pelo medico de adúltero. A refrega alcançou o ápice no episódio da Rua Toneleiros, ocasião em que Lutero foi acusado de ter encomendado o atentado contra Lacerda. Com o suicídio de Getúlio, Lutero, aos poucos, passou para o banco dos reservas. Caberia aos pesquisadores investigar até que ponto a defesa do pai pelo filho pudesse camuflar o desejo de ocupar o lugar do Pai totêmico, como sugeriram Freud e Lacan. Na peça de Hélio Sussekind, Ponto morto, o conflito entre pai e filho instala-se despido de política entre o pai Humpty e o filho autista Dumpty. Ambos vagueiam por uma floresta meio real, meio imaginária como se procurassem deslindar-se do cipoal que lhes embaraçava pés e linguagem.