Sérgio Roxo da Fonseca
Atribui-se a Heráclito a proposição segundo a qual a história ee confunde com o movimento, definindo-se a redefinindo-se a todo o momento. Ninguém consegue entrar no mesmo rio duas vezes. Na segunda vez, o rio já não será o mesmo. E nem você será a mesma pessoa, sentenciava o filósofo. A realidade é um movimento constante. Nada pára, tudo se movimenta, ainda que sintamos o contrário, muitas vezes por engano.
Eliot tentou entender a questão, logo ele que nasceu nos Estados Unidos e morreu na Inglaterra, sendo reconhecido como poeta britânico e não americano. Disse que o passado é um rio que deságua no presente. E que o futuro também flui na direção do presente. Rigorosamente não há passado nem futuro. Tudo é presente. Será possível?
O pretérito perfeito é um dos tempos verbais que em algumas Línguas é conhecido como sendo o futuro do passado. Mas o futuro tem passado? Ou se trata de um erro lógico ou, quando muito, de uma licença poética? Um futuro condicionado pelo que nunca existiu: José fôra médico se tivesse estudado Medicina.
Para tanto seria importante saber se o presente poderia ser dividido ou não. Se pudesse ser dividido, o que passou seria uma parte dele, mas não é: o que passou é parte do passado. Então caberia tentar dividir o presente com o que será amanhã, o que também não faz sentido, pois aquele pedaço já é do futuro. Então o presente é indivisível, parecendo negar a fluência dos rios preconizada por Eliot.
Mas, se fosse indivisível, como ligar o presente com o passado e com o futuro? Caberia dizer que o presente não existe pois nem é divisível nem indivisível, refletindo apenas o movimento contínuo da realidade pétrea como revelou Heráclito. Um vir-a-ser constante? Sem ponto de interrogação? Sem ponto final?
Jorge Luís Borges registrou que toda vez que passava pelo Sul de Buenos Aires lembrava-se de Helena, o que lhe dava a certeza de que a passagem dos dias e a fluência do tempo não apagam a presença de um grande amor. Para Borges, “só se perde o que nunca se teve”.