Luiz Roberto Benatti
Horror vacui, do Latim, significa medo do espaço vazio. Os gregos usam o termo kenophobia, de sentido quase idêntico – medo do vazio. A razão disso é que algo em nós, há muito tempo, desarranjou-se porque alimentamos a fantasia de que o que chamamos de Real acha-se à nossa volta, quando isso tudo – a nuvem cambiante, a árvore, a montanha, o carro – são objetos que compõem o cenário no qual dizemos nossas falas cômicas ou dramáticas. O silêncio nos deixa arrepiados, como se Nosferatu andasse à caça dos incautos. O horror vacui é doença de percepção subsidiária do desinteresse pela permanência: a memória provoca em nós úlcera péptica. Para nós, é como se tudo se renovasse o tempo todo, de modo que tal furor corroesse placas, apagasse nomes. Quem sabe onde morou Jocelyn Fernandes Lopes e o que houve com essa criatura? Ernesto Ramalho foi o prefeito inaugural da cidade, mas quem passar por beco que tenha seu nome, por favor, me procure para eu fotografar a placa. Você se lembra, vez ou outra, do Cineteatro Republica ou apenas do último naco de churrasco tostado que deglutiu no domingo? O nosso teatro já se chamou Luiz Carlos Rocha, mas os adolescentes não sabem quem foi ele. A Praça fronteira ao Barão do Rio Branco foi, incorretamente, chamada de Rooselvet com quem nada ou muito pouco tínhamos a ver. Aristides Muscari foi nosso grande documentarista mas 99% dos catanduvenses o ignoram, assim como João Clemente. Nossa fobia pelo espaço vazio estende-se ao medo que alimentamos de ver em 10 de nossas 200 pracinhas peças de escultura. A escultura carece ter à volta vazio e silêncio por ser ela capaz de reconfigurar o espaço e, ao fazê-lo, reeducar o nosso olhar. Aquele que reeduca o olhar cicatriza em si dentre outras coisas o gosto pelo preconceito. Talvez, sem saber, sejamos vidrados em Robert Crumb, desenhista que preenche o espaço da página como se fosse autor de arabescos num tapete árabe. Quem toleraria olhar por 15 minutos para um jardim nipônico ou uma escultura do britânico Henry Moore?