Luiz Roberto Benatti
No dia 20 de abril de 1929, pela segunda vez, o cardeal Arcoverde esteve em CTV. É lamentável a escassez de documentos comprobatórios dos detalhes da visita bem como as razões de ter ele aqui estado nos primeiros anos de formação do Município, quando éramos pobres, desfeitos e mofinos. É possível que o cardeal aqui tivesse estado para dar notícia a padre Albino dos entendimentos entre a Igreja e Benito Mussolini do Pacto de Latrão, assinado em 11 de fevereiro. Para oferecer seu apoio ao ditador, a Igreja reivindicou a total soberania da Santa Sé como Estado independente; a concordata regulamentou a posição do Vaticano como Estado na Itália; por fim, o Vaticano exigiu que o Estado italiano reparasse as perdas financeiras da Santa Sé por seus territórios e propriedades. Não há jantar nem apoio político gratuito. Em Língua inglesa, Pacto de Latrão diz-se Lateran treaty e se refere ao palácio dos lateranos erguido por romanos fora dos muros do Vaticano. É possível que o cardeal Arcoverde tivesse vindo a CTV para tratar da posse cartorária do quadrilátero da Matriz de São Domingos como propriedade da Igreja. Lembremos também que a Praça 9 de Julho tinha sido propriedade da Igreja. Em 24 de outubro, quinta-feira negra, a bolsa de Nova York explodiu e o Capital voou dos cofres enferrujados para as nuvens. Voou, fez caraminholas e voltou insaciável, como disse o poeta norte-americano Ezra Pound.
Pe. Albino, do Minho para o Cerradinho
Nascido em 1882 em Portugal, o pe. Albino foi nomeado pelo bispo de São Carlos pároco da Matriz de São Domingos do Cerradinho no dia 28 de abril de 1918, 14 dias depois de a cidade ter virado Município. Albino estava com 36 anos, era monarquista e, depois da revolução lusa de 1910, foi vítima de perseguição política dos republicanos que o condenaram à prisão e ao exílio na África. O padre não deixou anotações sobre tais fatos de suma importância para a compreensão de sua visão política de mundo bem como de sua personalidade, autoritária segundo alguns relatos, a ponto de ter ele, nos primeiros dias de paroquiano, despedido o sacristão pilhado no roubo de esmolas da capela. Apegados ao pároco anterior, Maurício Caputto, os fiéis quiseram remover para outra localidade o padre recém- chegado, e para tanto foram até São Carlos para tratar da situação com o bispo. O bispo fez a defesa da permanência do padre Albino respondendo aos membros da comissão que era sua incumbência concluir as obras da Matriz iniciadas por Caputo. Tempos depois, Albino conquistou a confiança e a admiração dos fiéis.