Luiz Roberto Benatti
Enquanto que o Rio de Janeiro imperial arrumava-se para vestir-se com o dólmã republicano, dividiam-se nos bares, nas ruas e nos lares, florianistas de antiflorianistas. Poetas e escritores bebericavam ou se embriagavam à tarde nos grandes botecos recortados à moda francesa: Mallet, Pompéia, Bilac.A Confeitaria Cailteau, da Rua do Ouvidor, era a Petiskeira desses escritores boêmios. Mais tarde, mordido por cobra pernambucana, Bandeira os chamou de parnasianos aguados. Bilac cofiava o bigode vasto como se fosse um Salvador Dali carioca; Pompéia corrigia o prumo do pince-nez míope. Escreviam para as revistas da moda lidas em particular por charmosas moças pré-casadoiras. Havia sempre alguém para arrumar o salão para a dança dos desafetos. Numa dessas ocasiões, Oscar Rosas cobriu na redação do Jornal do comércio a ausência etílica de Bilac(março de 1892) e escreveu que Pompéia gostava de se masturbar em seu quarto solitário, à noite e numa cama fresca, amoroso e sensual, inspirado na recordação das beldades entrevistas durante o dia. O bicho mordeu Pompéia que se fechou no mutismo esquizoide prometeu vingança e, tanto fez, que armou o duelo. Pistola ou espada? No contra-ataque, Pompéia escreveu que Bilac cometia incesto com um sobrinho. A fofoca permite que Tânatos saia da caverna escura e venha gritar aqui fora que somos todos santos de pau oco. Vai daqui, vai de lá, sempre que a dupla vingadora anunciava dia e hora do duelo em tal ou qual lugar, a polícia chegava antes para impedir o homicídio. Escolheram a espada, embora não soubessem manejá-la, porque nela a peleja cessa tão logo um dos contendores atinja o outro ainda que seja de modo leve. Três anos depois, mortificado por artigo de Luís Murat, em dezembro de 1895, Pompéia cometeu suicídio. Bilac morreu solteirão da silva e virou professor honorário da Universidade de São Paulo.