Luiz Roberto Benatti
A dupla cantou na voz do imponderável que para a doença do amor o remédio deverá ser comprado na farmácia noturna com o nome de flor da noite. Na bula, escreveram que o medicamento nos cura do amor mal realizado com outro amor. A metáfora é descomunal e tão atraente quanto o zôo do Pantanal mato-grossense. Bem, o negócio é que o aedo em você caía pelas tabelas com a ferida aberta do mal de amor, quando você saiu à procura da tisana na dita boate, onde cantou, bebeu, cantou e bebeu a noite toda, até que, quando o sol avermelhado do campo apontou no fim da rua, você se deu conta de que a mulher havia pinicado, cujo nome você não soube qual fosse. Mulher anônima tem tantos fios de cabelo quanto mulher nominada. A dama da noite botânica surge de ramos que se parecem com folhas, cujo perfume atrai polinizadores como os insetos noturnos e os morcegos. Muitos cantores caipiras soltam guinchos como os morcegos e, quando o fino ruído choca-se contra uma parede, ele se volta para trás até entrar pelo campanário auditivo do crooner. Caso você não se cure da dor de amor, não se preocupe porque outra flor brotará no jardim noturno. Dê-se conta, porém, dum acontecimento funesto: depois da polinização, a flor começa a fenecer. Notou que a dama da noite é um cacto?