Charles Simic
Em cima do balcão, entre vários
Livros já muito usados,
O livro raro que tens de ter
Imediatamente, aquele
Que te deixa o coração aos pulos
Enquanto esperas pelo troco
Com um sorriso parvo
Que levarás para a rua,
Passando, mais tarde, pela senhoria
Que te observa a limpares os sapatos,
E com o qual subirás ao quarto alugado
Que confina com o quarto
De uma empregada de discoteca
Que vai rapando as pernas
Com uma porta entreaberta,
Enquanto viras para a primeira página
Que fala do pressentimento
De uma existência maior
Nas coisas conhecidas e sem graça…
Numa casa que em breve será demolida,
Subitamente sossegada, e sobrenatural…
Tens de sussurrar o teu próprio nome,
Bem como as palavras do eremita,
Pois o jantar já lá vai há muito,
Esse que comeram depressa,
Contentes por a tua pequena dose
Ter ido para o cão de três patas.