Luiz Roberto Benatti
1ª.) Escolha um título que lhe pareça mais ou menos misterioso, p.ex., A navalha de Occam. Se você trocar a forma simplificada do nome por Ockham, o leitor ficará muito mais interessado em saber quem foi o assassino e o que fazia na história a tal navalha;
2ª.) Dedique um capítulo de cabo a rabo para instruir o leitor sobre o uso da navalha, em particular sobre a necessária destreza dum assassino contumaz abrir carótidas alheias;
3º.) Alongue-se na descrição da paisagem: nuvens negras, raios, árvores caídas, gritos soturnos, a lembrança dum rio caudaloso, passos misteriosos;
4º.) Lembre-se de que o assassino de nossos dias não tem de necessariamente ter tido o rosto perfurado por sífilis na mocidade nem precisa ser estúpido a ponto de ignorar Mozart;
5º.) Que seja ele um solitário, vá lá, mas que a vila dele desconfie o tempo todo ,ainda que ele vá comprar enxadão na casa de ferragens, isso poderá prejudicar o andamento da narrativa;
6o.) A solução do crime é a chave da grande novela policial. Salpique no texto tiradas ou máximas filosóficas ou então costure-as de tal modo, que por elas você enredará o leitor a ponto de ele não ir para a cama antes do final;
7º.) Assim, faça dum dos conceitos do verdadeiro Ockham o fio de prumo do romance.Ele escreveu; “Se em tudo o mais forem idênticas as várias explicações de um fenômeno, a mais simples é a melhor”. Raciocínio complexo e deduções singelas e um dia, como Paulo Coelho, você poderá ser um miliardário na Suíça graças à elevada qualidade de sua produção cultural.