Luiz Roberto Benatti
O convívio humano é desejável, mas o poder tem etiquetas cifradas e, desde o inefável Platão, o Poeta foi mantido à distância: o grego envenenou ditadores e democratas com um tipo de fel intragável ao dizer que o versejador mentia. O que o grego não nos disse é se o governante dirá sempre e em qualquer lugar a verdade sem tergiversar. No Brasil, a Poesia vive distante do poder e do convívio com os cidadãos de modo geral, estranha até mesmo para a moçada já que um Platão maroto, filho de Macunaíma, talvez, a tivesse expulsado da escola. Com John e Jacqueline, em mais de 50 ocasiões, músicos, pintores, arquitetos, pintores, grandes intelectuais, participaram do ágape, ouviram com o coração suspenso, bebericaram bom champanhe e voltaram para suas casas como se flutuassem pelas ruas. A primeira dessas ocasiões foi o momento grandioso em que o poeta Robert Frost leu para a seleta platéia um poema. Isto não pareceu aos Kennedy nem aos convidados gesto inventado num outro mundo, todavia algo espontâneo e absolutamente natural. Você poderá num jantar combinar smoking com poesia, mas não poesia com caras azedas. A boa Poesia faz bem para a cútis. Vargas conviveu com cantores, poetas e pintores, tudo porém feito de amarrações políticas, como foram os casos de Drummond ou Vinícius que serviram à ditadura do gaúcho.Hitler enviou poetas e escritores para os campos de concentração, mas não me lembro de que tivesse perguntado a Gottfried Benn se estaria disposto a dissecar um daqueles corpos esquálidos à procura da chave do poder eterno.