Luiz Roberto Benatti
O sorriso sempre armado no rosto redondo de Daniel Palmeira de Lima foi sempre uma preocupação para os meus botões. Como pode, pensava eu, um sujeito rir-se o tempo todo num país chamado Brasil desorganizado do Oiapoque ao Chuí? Agora, em seus dias de exilio, solidão e depressão, entendo que o sorriso era seu segundo rosto, colado ao anterior, por trás do qual ele ruminava como fazer-se o que não deveria ter sido feito, ainda que sua sofreguidão por locupletar-se no espaço público aos poucos se tornasse manifestação de doença da alma. Ele cumprirá pena mas, ao sair, terá de remover a lama que espalhou na casa. Como tem ele em Icém exemplar da Bíblia, recomendo-lhe escrever na parede da cela as palavras do Salmo 62:10 e, como se fossem vocábulos dum mantra, repeti-las o dia todo, até se convencer de que o caminho do Bem passa bem longe da estrada do Mal: “Não enriqueça graças à extorsão e o roubo. Se a sua fortuna aumentar, não se orgulhe disso”.