Hans Raimund
1
Aqui não tenho com quem falar
Sinto falta dos pássaros
E dos coelhos
Dos cervos aqui já não se fala
Salvo nos cardápios e placas de rua do Carso
2
De madrugada os galos também cantam aqui
E hoje um esquilo preto caiu
Desgrenhado de uma árvore
No asfalto bem à frente de meus pés
3
Ainda há pouco noite alta a lua uma bala de limão,
Eu e o cachorro vimos um ouriço
Junto a uma lata de lixo cheia de gatos barulhentos
Ele comia aparas de papel estupefato
4
Água aqui flui abundante
Ela me dá medo
Quando venta na direção certa vem seu cheiro até a casa
5
E o bora! A noite inteira
As persianas estremecem pela manhã
Há dobradiças arrancadas caídas nos arbustos
As intempéries descascam a cal das fachadas
6
Nos campos o milho do ano passado
Branco de poeira sussurra ao vento
Mais uma vez é tarde demais
Para queimar as roças
E dar lugar ao novo deste ano
traduzido perto Paulo Henriques Britto
[Com a dissolução do império Austro-Húngaro, Duino foi incorporada à Itália. As Elegias de Duino, de Rilke, como o poema de Hans Raimund, referem-se à localidade.]