Luiz Roberto Benatti
O senhor defende o ponto de vista de que Martin Heidegger não só se aproximou do hitlerismo como também tomou gosto pelo veneno. Como o senhor se inclui na categoria dos intelectuais, logo encontrou curtidores de sua posição, alguns dos quais leram do filósofo alguma coisa, outros coisa nenhuma. Como a súbita paixão de Heidegger pelo hitlerismo deu-se em 1933 e, no ano seguinte, 1934, ele já tivesse superado o momento irracional da entrega, seria de esperar que dirigíssemos aos desleitores do filósofo convites à leitura e não lembranças amargas dessas horas que deverão servir apenas para adiar o contato e não o contágio com a obra seminal. Admite o senhor tratar-se de obra de exponencial valor e, que se for mesmo o caso, deveria ser conhecida? Embora eu não goste de argumentar com base numa espécie de contracampo do raciocínio, pergunto-lhe se o senhor vê Drummond ou Manuel Bandeira do mesmo modo que analisa MH, porque ambos serviram ao governo de Getúlio Vargas, que não só combateu as esquerdas, como namorou o nazifascismo. Nessa direção iríamos longe.O senhor se preocupa com a indigência cultural de nosso País ou com a textura pé-de-chinelo de nossa produção literária? Deu-se conta de, quando muito, a literatura escolar alcança os anos 60s, todavia com Clarice Lispector e João Guimarães à margem? Quando chegaremos a Milton Hatoum? Heidegger é água que dessedenta, mas para bebê-la temos de acordar bem cedo.