Luiz Roberto Benatti
Do meio da rua e ao lado da carroça, o menino olha para o fotógrafo que o vê: autor e personagem, abduzidos ambos pelo Tempo, construtor e demolidor de homens e civilizações. O fotógrafo divide o quadro, pela oblíqua, em dois triângulos. No triângulo inferior, à direita, vêem-se as árvores duma praça. No triângulo superior, leito carroçável ascendente, casas de comércio à esquerda, toldo, dois garotos, carroça, placa, automóvel, casa na esquina. A luz do sol recorta seres e objetos e projeta imagens esticadas da direita para a esquerda, quer dizer, do triângulo inferior para o superior. Quer isso dizer que a foto foi tomada no por do sol. Numa descrição insuperável, Euclides da Cunha registrou nOs sertões: “O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão …”Cerrado, o toldo protege a loja da intensa reverberação da luz. No período do ano em que estamos, meados do Inverno, quem siga de carro pela Rua Aracaju na direção da 24 de Fevereiro receberá a luz do sol, de chofre, no rosto. Quem caminhe nessa direção estará a Oeste da cidade. Assim, se prolongarmos a linha-limite do triângulo superior para fora do quadro e para a direita, o sol poente teria de estar no SO, posição não autorizada pela inclinação do eixo terrestre no período. Conclusão provisória: a fotografia não foi feita em CTV.
[A presente análise quer dialogar com os comentários feitos por Nélson Bassanetti no link Amigos de Catanduva, em que ele afirma ser esta uma fotografia da Rua Alagoas e imediações. Por ser evidente o aclive da rua, não comentei o fato, todavia concentrei-me noutras questões de topologia que me pareceram relevantes.]