Luiz Roberto Benatti
não me lembro onde nem quando
já tive punhos de aço
me chamaram de madraço
virei depois tunante
quando me tornei fumante
como muito sem parar
fiquei rotundo saco sem fundo
vou daqui para lá
corro o mundo nauseabundo
roubei colar duma velhota
arrebentaram de pau minha cachola
meganha me deitou na padiola
e me trancou na gaiola
fugi por uma portinhola
na rua pedi esmola
sou nômade
ready-made da miséria
quase virei antimatéria
li muito até gastar os fundilhos
no asfalto ou nos trilhos
sei quanto vale um milissegundo
na vida dum moribundo