Charles Bukovski
para a rapaziada do Vig Vatten que vendem cerveja de verdade
não sei quantas garrafas de cerveja
consumi enquanto esperava a vida
melhorar
não sei quanto vinho e uísque
e cerveja
principalmente cerveja
consumi depois
de brigar com mulheres –
esperando que o telefone tocasse
esperando o som dos sapatos
e o telefone tocar
esperando o som dos sapatos
e o telefone nunca toca
até bem tarde
e os sons dos sapatos não chegam jamais
até bem tarde
quando o estômago salta para fora
da boca
elas chegam viçosas como flores de primavera:
“que porcaria você andou fazendo com você mesmo?
faz 3 dias que não damos uns amassos!”
a mulher é sólida
vive sete vezes e meia mais que
o homem e bebe pouca cerveja
porque sabe que isso é ruim para a sua aparência
enquanto ficamos loucos
elas saem por aí
para dançar e saracotear
com peões chifrudos
Calma, moçada, há
sacos e sacos de garrafas vazias de cerveja
e quando você gruda um deles
a garrafa cai lá no fundo molhado
do papel do saco
deslizando
tinindo
cuspindo uma baba cinzenta
e cerveja choca
ou então os sacos depencam às 4 da madrugada
fazendo o único barulho do mundo
cerveja
rios e oceanos de cerveja
o rádio tocando canções de amor
enquanto o telefone continua mudo
e as paredes
ficam girando
sobem e descem
e cerveja é tudo o que resta no mundo
[Na imagem, o poeta com a mulher Linda Lee]