Luiz Roberto Benatti
“Nasce o Sol, e não dura mais que um dia; depois da Luz se segue à noite escura; em tristes sombras morre a formosura; em contínuas tristezas e alegrias.” [Gregório de Matos] No barroco gregoriano, o poeta alinhava, uma após outra, as antíteses: sol/noite escura; sombras/formosura; tristezas e alegrias. Elemento chave do discurso dialético, a antítese é ferramenta imprescindível à elaboração do poema. No jornalismo diário também, caso aceitemos que o fato ou ocorrência possa ser visto como tese, à qual deve seguir-se a leitura crítica do comentarista. Digamos também, sem contar talvez com o apoio de Hegel, que tese e antítese estão noutro lugar que não a síntese e que ambas costumam conter certa dinâmica, de tal modo que a tese seria geradora de força motriz superior à antítese. Na legenda do barco parado em meio ao lodaçal, Schoppenhauer e Hegel estão hesitantes sobre como movimentá-lo e um pouco perturbados com a conclusão: “Podemos considerar nossa vida como ocorrência perturbadora porém inútil na feliz tranqüilidade do nada”. Se o marido disser sim e a mulher não, estarão ambos entaliscados no lodaçal do nada. Se a câmara disser sim e o prefeito não, estarão ambos entaliscados no lodaçal do nada. A antítese será capaz de movimentar força geratriz ou propulsora quando surgir do espírito crítico. Sim e não levam à paralisia da ação e não alcançam a síntese, ponto de mudança.