Luiz Roberto Benatti
Meu tempo é uma ilha de longa estadia:
as luas brotam do seio das árvores
e custam aos olhos o preço do olhar
Quem lhes dispensa moeda tão baixa?
Vou à rua saber sobre o Mundo,
se a bomba roeu-lhe o belo matiz
Existirá quem o saiba além da esquina?
O que trouxe o vento perdeu-se na relva,
onde se deitam os amantes esquecidos de si.
O que resta cantar? As façanhas de César?
Despertar os casais para o minuto da carne,
se sonham com a dor de terem nascido?
Rir alto do coxo que passa empalhado
carregando no ombro seu crime nenhum?
Pedir aos infantes que lancem os dados
e revelem um número menos marcado?
Esquecido em Tomos, Ovídio suspira,
e mira esta Lua, a mesma que miro.
Dar-lhe a mão, saltar e pular,
dizer à Musa que ria conosco,
que viva conosco uma vida honesta
sem imolar doce ovelha a Minerva.
De outro tempo melhor que se saiba
quem sabe dizer onde fica a enseada?