Luiz Roberto Benatti
Caso continuemos a pensar, como o meu amigo Luiz Seixas, que os críticos de Havana expõem , de modo discreto, as entranhas da ilha, ora em estado de putrefação, motivados por suas doenças particulares, como se Machado de Assis, Gustavo Flaubert ou Marcelo Proust outra coisa não tivessem feito se não deitar no papel achaques e cólicas, com nada mais iremos nos ocupar a não ser com nossos doloridos retratos na parede. Cuba não é nem pode ser, porque ela já foi e o que foi não voltará a ser jamais. Agora foi a vez do balé nacional disposto a dançar Cinderela nos EUA e não voltar a fazê-lo para o irmão de Fidel. O dançarino de balé pertence a uma elite, ainda que tenha nascido e crescido na favela do bandidão do cadeião: roupa, sapatilha, espelho, prolongados exercícios diários, corpo alimentado, música. O ferreiro também pertence a uma elite, porque se trata de especialização: forja, bigorna, músculos rijos, resistência ao calor da fornalha, habilidade para fazer a roda da charrete. Quando, há muitos anos, dispus-me a ouvir Fidel Castro, vesti-me de paciência e, com minha mulher, aguardamos que ele entrasse na sala com 3 horas de atraso para falar por 5 enfadonhas horas. Foi precedido de alguns guardas, largos de ombro, que tudo examinaram a ponto de desmontar o microfone à procura de bomba.Em casa em que não havia pão, Fidel falava sem razão ou emoção.