Luiz Roberto Benatti
Bié desde a mais remota adolescência foi um moço prendado. Esforçado, ficou culto e, de saber elevado, semeia música popular no Facebook. O Facebook é o lugar das rosas e da saudade, do retrato de quando eu era pequenino, da rua de minha infância, mas também do dia de matar o prefeito. No fim de semana, uma jovem senhora declarou amor incondicional a Afonso Macchione abrindo-lhe um blogue.Afonso foi de 9 a 90,porque em 2005 o blogue que alcançou milhares de curtições chamava-se “Eu odeio Afonso Macchione”. Melhor não ter memória, porque assim as coisas sempre irão me parecer novas. Bié é louco por impeachment, aquela estatueta talhada em Alagoas e recebida por Fernando Collor, rapaz que amamos e odiamos. Nem o imperador menino havia conseguido o feito fato que obrigou Benjamin Constant a fazer as vezes de babá. Agora que o Bié anda lendo tudo até alta madrugada, recomendo-lhe num noite dessas ouvir o Otelo de Verdi, cujo libreto foi extraído de Shakespeare. É a grande tragédia do ciúme, inesquecível, maravilhosa. Com o propósito herético de atualizar a tragédia, recomendaria ao inefável Nílton Cândido ler, em lugar de Desdêmona, a prefeitura de CTV e, na pele de Iago, ele próprio. Iago é o rei da intriga, sujeito sumamente inteligente, ardiloso e que conduzia sem desviar-se da meta o desejo de ocupar o posto do mouro Otelo, apaixonado pela loira Desdêmona, desculpem-me, Catanduva. Depois da audição da ópera, poderíamos atender ao convite do coro, no cais, diante do mar tempestuoso: “Vamos beber!”O lenço? Guardanapo de restaurante serve.