Luiz Roberto Benatti
Depois de acertar 3 tiros em Dilermando de Assis, Euclides da Cunha foi abatido pelo amante de sua mulher. Em entrevista à revista E do mês corrente, João Adolfo Hansen, depois de exumar o corpo do grande escritor, uma vez mais o enterrou, não sem antes pregar-lhe tiro de espingarda de grosso calibre. Ele declarou à publicação: “Eu pessoalmente acho o Euclides da Cunha horroroso”. “Pessoalmente” ? Estaria o mestre querendo referir-se ao irmão de Dilermando – Dinorah – morto por Euclides no episódio trágico?”o Euclides”? Falsa intimidade a que se segue “horroroso”. Hansen morde e assopra. “Aquela linguagem científica, pedregosa, elaboradíssima, tudo bem, mas a ideologia dele era determinista, racista.” “Aquela”? “Tudo bem” por ser “elaboradíssima e pedregosa”, ou ele não gostou de vê-la “pedregosa”? A linguagem não era pedregosa, professor, mas mimética duma geografia pedregosa. Mais à frente, João Adolfo afirmou que “Nisso ele é genial”, por ter denunciado “as violências que o Estado brasileiro fazia com essas populações”. Genial e horroroso. Hansen, sem tirar nem pôr, é a cara de Herbert Marcuse que traçou o perfil do homem unidimensional. Para concluir, pergunto ao professor se ele ainda se lembra de alguns sinônimos de “horroroso”: asqueroso, hediondo, horrível, imundo, repugnante, sórdido? De que cavernas vem essa voz que o professor captou como se fosse médium de excretos?Gostei do vaso de antúrios, João Hansen. Eles gostam dos cantinhos de pouca luminosidade. A propósito, releia nOs sertões, a passagem sobre hemeralopia. Quanto cruzar na USP com a professora Walnice Galvão transmita-lhe saudações euclidianas.